Blog do Buckeridge

ETANOL CELULÓSICO: ONDE ESTAMOS E PARA ONDE VAMOS?

11 de junho de 2009
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Marcos S. Buckeridge (msbuck@usp.br)

Hoje saiu na Folha de São Paulo (Ciência na pgA17) uma reportagem do reporter Eduardo Geraque sobre uma das estratégias que o Brasil tem para atingir o etanol celulósico (no manual da Folha usam álcool de celulose, que é a mesma coisa), o Centro de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), que fica no Campus do Laboratório Nacional Luz Sincrotron (LNLS), em Campinas. O CTBE já está funcionando desde 2008 e o diretor presidente é o Marco Aurélio Pinheiro Lima. Eu serei, em breve, o Diretor Científico do CTBE e fui convidado pelo Marco Aurélio para montar o plano de ciência do CTBE. No meu plano de ciência pretendo enfocar a ciência transdisciplinar, que já vem sendo chamada de “ciência do modo 2”. Que eu saiba, este será o único centro do gênero no Brasil.

A transdiciplinaridade consiste em aplicar a ciência de forma interdisciplinar (ou seja onde as disciplinas interagem), mas com o objetivo de resolver uma grande questão colocada pela sociedade. A busca do etanol celulósico é uma delas e as mudanças climáticas globais é outra. Para entender melhor as vantagens da transdisciplinaridade eu postei um artigo sobre isto neste blog.

Outras inciativas são o BioEn-FAPESP, programa pioneiro que também ajudei a montar e ajudo a coordenar,  INCT to Bioetanol, do qual eu sou o coordenador e congrega 29 laboratórios em 6 estados brasileiros e a Embrapa Agroenergia, que fica em Brasília.

Há outras iniciativas em andamento. O Estado de São Paulo vai investir cerca de 100 milhões nas três universidades (USP, UNESP e UNICAMP) especificamente para a montagem de centros de bioenergia.

Pelas minhas contas, já estamos acima de 1 bilhão de reais (1/2 milhão de dólares) em bioenergia, pelo menos. Os EUA estão investindo bem mais. Por exemplo, só o investimento no Energy Biosciences Institute (EBI), do Department of Energy e da British Petroleum, foi de 500 milhões de dólares e os times já estão trabalhando nas melhores universidade americanas. Apesar de haver competição, haverá mercado para Brasil e EUA e nós estamos cooperando com o EBI, por exemplo, aprendendo com eles algumas coisas que não sabemos e ensinando algumas que eles não sabem.

Nós estamos na frente por vários motivos. Um deles é que já usamos a cana desde a época do descobrimento para produzir açúcar e já em 1920 nós havíamos começado a produção de etanol. Leia a história no meu artigo na Netrópicas

As iniciativas no Brasil para chegar ao etanol são muitas. Publiquei um artigo nesta semana onde descrevo as iniciativas. O artigo está na minha coluna no site da Revista Pesquisa FAPESP, a Neotrópicas. O artigo chama-se “A bioenergia que nos aproxima”.

Apesar de toda essa “sede” tenológica, é preciso lembrar  tanto no caso do CTBE, quando no BioEn, estamos tomando o cuidado de desenvolver tecnologias que sejam ambientalmente e socialmente sustentáveis. Nos dois programas, há pesquisas sendo desenvolvidas sobre os impactos. É preciso que a produção de biocombustíveis seja feita com responsabilidade. Veja a entrevista que dei isso para a Revista New Scientist em 23 de maio de 2009. Lá eu defendo uma idéia que chamo de caminho do meio. Também tenho um artigo publicado na revisa do LabJor da UNICAMP, onde as explicações são mais profundas.