Blog do Buckeridge

AS DIMENSÕES DA CULTURA, SEGUNDO HOFSTEDE | 3 de janeiro de 2009

Marcos Buckeridge (msbuck@usp.br)

Em relação ao meu comentário sobre o livro do Gladwell, fiz uma investigação sobre as DIMENSÕES DA CULTURA, que são colocadas em forma de índices, propostos pelo Geert Hofstede. As dimensões são definidas e discutidas no primeiro capítulo de seu livro. Abaixo vai um resumo do que é cada índice e comentários sobre o Brasil nesse aspecto. Veja que interessante:

Índice de Distância do Poder (IDP): até que ponto os membros menos poderosos na sociedade e instituições aceitam ou esperam que o poder seja dividido de forma desigual. No livro do Gladwell, ele explora bastante este índice para explicar a ocorrência de acidentes aéreos quando os pilotos são de cultura asiática. O Brasil (acima de 70) pode ser comparado com os EUA (abaixo de 40)  e é mais parecido com o México (acima de 80)

 Índice de Individualismo (IDV): há dois extremos opostos, que valorizam o individual ou o coletivo. O lado individualista acredita que as ligações entre os indivíduos são fracas e menos importantes. Na sociedade individualista, cada um “cuida do seu” . Em sociedades coletivistas, acredita-se que tudo é integrado em forma de grupos coesos, incluindo a família, que continua protegendo as pessoas em troca de lealdade. Nesse quesito, o Brasil tem um índice bem baixo (cerca de 25) que pode ser comparado com o Reino Unido e dos EUA (acima de 80). Eu gostaria de ver uma análise de diferentes regiões do Brasil. É bem possível que variem bastante em respeito a este índice.

Índice de Masculinidade (MAS): este índice (que tem como oposto a feminilidade) está relacionado com o “estilo” masculino que uma sociedade pode ter. Quanto maior o MAS, mas assertiva e competitiva a sociedade. Quanto menor (ou seja mais para o lado feminino) isto pode indicar uma sociedade mais cuidadosa. Nesse quesito, o Brasil é parecido com os EUA e Reino Unido. A comparação mais interessante deste índice é com os países escandinavos, que são “extremamente femininos” e contrastam com a América latina que é mais “masculina”

Índice de Evitação de Incerteza (IEV): este índice lida com a tolerância que uma sociedade tem à incerteza e à ambiguidade. Te a ver com a aquilo que chamamos de “verdade”. O IEV indica o quanto uma sociedade se sente ou não confortável com situações novas, desconhecidas e surpreendentes. Sociedades com alto IEV tentam evitar a incerteza com leis e regras restritas, incluindo medidas de segurança. Do lado oposto, culturas com baixo IEV são bem mais tolerantes e aceitam melhor as críticas e as novidades. Pessoas dessa cultura são geralmente mais frios em relação à expressão de sentimentos.

Índice de Orientação de Longo-prazo (IOL): este índice se refere ao quanto uma sociedade se orienta para ações de curto e longo prazo. Ela foi incluída entre as dimensões de Hofstede posteriormente por outro autor, mas ele acabou adotando na edição de 2001 de seu livro. O estudo foi feito com estudantes de 23 países usando um questionário feito por cientista chineses. Não tem a ver com a verdade, mas somente com a orientação de cada cultura. Valores altos de IOL se associam com perseverança e os baixos com o peso da tradição. Este é um caso interessantíssimo, pois aqui vemos como a América Latina (e o Brasil não difere) tem um valor extremamente alto de IOL (cerca de 80) enquanto o Reino Unido e os EUA estão na faixa de 20.  Estes números parecem concordar com a ideia do Brasil como “o país do futuro”

Numa época globalizada como a que vivemos, índice como estes podem ser bastante úteis, especialmente se temos que lidar com pessoas de diferentes culturas. Mas tome cuidado. O Geert Hofstede deixa muito claro que não podemos classificar pessoas, mas somente culturas usando estas dimensões. Portanto, o argumento: “mas o meu tio não se encaixa no padrão brasileiro e portanto estes índice não valem” não cabe, pois estaríamos usando um caso para explicar o todo. Em outras palavras, estes índices refletem as propriedades emergentes das diferentes culturas. Seus valores provavelmente variaram e variam historicamente. O Brasil, na minha opinião, tem mudado muito nos últimos 20-30 anos. A cultura é algo muito complexo, que envolve tudo o que ocorre em uma sociedade. 

Assim, pode usar, mas com muito cuidado!

Sobre os índices do Brasil, a informação pode ser obtida no site da ITIM.Ao lado esquerdo da página deste site você pode acessar os dados de vários países. Meus comentários foram feitos somente com base nesses pequenos textos e em outros textos do Hofstede que consegui obter na internet. Há uma entrevista com ele, que tem um link em seu próprio site, que é realmente muito interessante.

Nos próximos artigos no site da Revista Pesquisa FAPESP e aqui no Blog, vou discutir as mudanças climáticas globais em relação às dimensões da cultura de Hofstede.


1 Comentário »

  1. […] uma renomada teoria de antropologia cultural, em uma dimensão chamada o “Índice de Distância do Poder” (IDP), o Brasil e a […]

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